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26/04/2012

Morte de centenas de golfinhos na costa do Peru intriga autoridades


Autoridades do Peru ainda tentam descobrir o motivo do aparecimento de centenas de golfinhos mortos nas praias do norte do país nos últimos meses.
Entre fevereiro e abril, foram encontradas 877 carcaças. Quase 90% eram da espécie golfinho-comum-do-bico-fino (Delphinus capensis). O restante, de botos-de-burmeister (Phocoena spinipinnis).
O ministro do Meio Ambiente do Peru, Gabriel Quijandria, disse que os estudos para desvendar a morte dos animais ainda estão incompletos, mas que a hipótese mais provável seja uma infecção viral. “Existem artigos científicos sobre a incidência do morbilivírus, um tipo de cinomose em cetáceos. Isso pode ser comprovado na próxima semana”, disse.
Quijandria também afirmou que o país espera receber ajuda de especialistas da NOAA, agência americana de administração oceânica e atmosférica, para descobrir se os animais tinham algum tipo de vírus.
Mas o grupo ambientalista peruano Orca diz que a provável causa das mortes são as ondas sonoras emitidas pelos trabalhos da companhia de petróleo BPZ Energy, empresa com sede em Houston, EUA, que explora a costa norte-peruana. Os testes foram realizados entre 8 de fevereiro e 8 de abril.
Rafael Zoeger, gerente da companhia no Peru, disse que os estudos sísmicos feitos pela empresa foram realizados com um navio que disparava descargas de ar comprimido em direção ao solo marinho. Essa “arma de ar”, de uso comum entre companhias de petróleo, emite sons e envia pulsos subaquáticos. Zoeger não acredita que os animais tenham morrido devido à exploração de petróleo.
Quijandria também não acredita que as mortes tenham sido resultadas dos testes. “Até agora, não existe evidência ligando a morte dos golfinhos com os trabalhos sísmicos”.
Diversos pesquisadores estão estudando o efeito das “armas de ar” nos mamíferos marinhos. Um deles é George Ioup, professor de física na universidade de Nova Orleans. Ele afirmou que a questão ainda está “em aberto”.
ENCALHE
Centenas de golfinhos aparecem mortos nas praias em várias partes do mundo, embora o número de animais contabilizado no norte do Peru ter sido particularmente alto. O ministro do Meio Ambiente do país disse que o país não via uma quantidade de carcaças tão grande de há tempos.
Katie Moore, gerente do IFAW (Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal) em Massachusetts, afirmou que algumas áreas do mundo tendem a ser pontos-chave para encalhes em massa de baleias e golfinhos. Alguns exemplos são o Cabo Cod, na costa americana e as costas da Austrália e Nova Zelândia.
“Durante o último inverno, tivemos mais de 200 golfinhos aqui no Cabo Cod. Nós presenciamos encalhes em massa diversas vezes ao ano. Geralmente, as causas desses eventos não são determinadas, o que é frustante”, afirmou Moore.
Fonte: Folha.com
Golfinhos que apareceram mortos nas praias da costa norte do Peru, próximo a Chiclayo, a 750 quilômetros de Lima. Especialistas investigam a morte de 877 golfinhos entre fevereiro e abril deste ano.
Golfinhos que apareceram mortos nas praias da costa norte do Peru, próximo a Chiclayo, a 750 quilômetros de Lima. Especialistas investigam a morte de 877 golfinhos entre fevereiro e abril deste ano.

Crianças arrecadam 13 toneladas de material reciclável em uma semana


A coleta foi feita por estudantes de escolas de Bragança Paulista (SP), Votorantim (SP) e São José dos Pinhais (PR) que participam das Olimpíadas de Reciclagem Esquadrão Verde.
A ação teve início na semana de 15 a 21 de abril. Nesse período, as crianças das três cidades conseguiram juntas somar 13 toneladas de material reciclável.
Em cada um dos três locais, participam quatro escolas públicas.
Até agosto, os alunos matriculados no Fundamental I devem levar para escola, toda semana, material destinado à reciclagem. Este é em seguida entregue às cooperativas, que se ocupam da transformação do lixo.
Nas Olimpíadas de Reciclagem Esquadrão Verde, a escola que consegue acumular mais material ganha mais pontos na gincana.
Na etapa final, em agosto, há uma competição entre as instituições escolares que também vale ponto.
Aqui os participantes disputam partidas de vôlei, basquete, futebol e outras modalidades.
A instituição que obtém maior pontuação por cidade recebe R$ 20 mil para melhorias internas e todas as escolas participantes vão ganhar livros paradidáticos para a biblioteca.
Crianças de outras cidades também podem colaborar com a campanha.
Clicando no site do Esquadrão Verde Tang, o visitante participa de Circuito Olímpico virtual.
Os pontos que os visitantes conseguem nesses jogos vão para uma das quatro escolas que ele escolher. Assim, as instituições vão ganhando itens adicionais, como bancos, mesas recreativas e bicletário.
A atividade é realizada pela marca de refrescos em pó Tang e tem o objetivo de estimular o hábito de separar o lixo e fazer a reciclagem.
Fonte: Folha.com
Robô de 14 metros de altura, construído com material reciclável coletado por crianças de todo o Brasil durante as Olimpíadas de Reciclagem de 2011
Robô de 14 metros de altura, construído com material reciclável coletado por crianças de todo o Brasil durante as Olimpíadas de Reciclagem de 2011

Brasil precisa erradicar 2.906 lixões até 2014, afirma estudo do Ipea


Comunicado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado nesta quarta-feira (25) sobre o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) aponta que o Brasil ainda tem 2.906 lixões distribuídos por 2.810 municípios que precisam ser erradicados até 2014, segundo a lei publicada em 2010.
Entre as prioridades do PNRS estão a redução do volume de resíduos gerados, a ampliação da reciclagem, acoplada a mecanismos de coleta seletiva com inclusão social de catadores e a extinção dos lixões até o fim de 2014, com a implantação de aterros sanitários.
Para técnicos do instituto, o prazo é apertado e será difícil cumprir a meta nos próximos dois anos sem que haja a criação de políticas públicas que incentivem mais a reciclagem nas cidades e a coleta seletiva na área urbana.
Segundo o documento do Ipea, a região Nordeste abriga o maior número de municípios com lixões: são 1.598, o equivalente a 89% do total de cidades da região.
Para o Ipea, a criação de consórcios públicos para gestão de resíduos sólidos, que agrupariam pequenas cidades com poucos recursos financeiros, poderia ser uma forma de resolver esta questão.
Atendimento
Segundo o comunicado, a coleta regular de resíduos sólidos alcançava em 2009 quase 90% dos domicílios, sendo que na área urbana o atendimento supera 98% das moradias.
Entretanto, na zona rural, 67% das casas não recebe visitas periódicas de caminhões recolhendo o lixo.
Sobre a coleta seletiva de materiais reciclados, o Ipea afirma que 2008 o número de cidades com programas de coleta seletiva passou a ser 994 — ou seja, apenas 18% dos municípios brasileiros. A maioria está localizada no Sul e Sudeste do país.
“A coleta seletiva ainda é incipiente e está concentrada nas regiões ricas”, disse Jorge Hargrave, técnico de Planejamento e Pesquisa do instituto.
Desperdício
O comunicado afirma que muita matéria orgânica tem sido desperdiçada ao encaminhá-la diretamente aos aterros e lixões, já que poderiam passar por tratamento para gerar energia elétrica. Das 94,3 mil toneladas de lixo orgânico recolhidas diariamente no país, somente 1,6% (1.509 toneladas) são encaminhadas para reaproveitamento.
De acordo com o documento, “esta forma de destinação gera despesas que poderiam ser evitadas caso a matéria orgânica fosse separada na fonte e encaminhada para um tratamento específico, como a compostagem”.
No setor agrosilvopastoril (agricultura, silvicultura e pecuária), o Ipea afirma que, anualmente, são geradas 291 milhões de toneladas de resíduos sólidos nas agroindústrias que podem ser melhor aproveitados na produção de fertilizantes naturais ou para geração de energia elétrica.
O estudo do Ipea diz, por exemplo, que se todos os resíduos secos da produção de cana no Brasil fossem encaminhados para geração de energia, a potência instalada seria de 16,6 GW (mais que a potência da usina de Itaipu, com 14 GW).
“Mas para isso, são necessários incentivos do governo. Além disso, esse aproveitamento energético diminuiria o lançamento de gases de efeito estufa na atmosfera”, afirma Regina Sambuichi, do Ipea.
Fonte: G1
Aterro de Gramacho, no Rio de Janeiro, que será desativado ainda este ano. (Foto: Janaína Carvalho/G1)
Aterro de Gramacho, no Rio de Janeiro, que será desativado ainda este ano. (Foto: Janaína Carvalho/G1)

Traficantes de marfim matam 22 elefantes na África


Militares da República Democrática do Congo divulgaram nesta terça-feira (24) a foto de carcaças de elefantes mortos por traficantes de marfim no Parque Nacional Garamba. Os 22 animais foram abatidos em um ataque feito por helicóptero. Em 2011, o número de apreensões de marfim bateu recorde, e a tendência de alta continua. Desde o início do ano, massacres de elefantes foram registrados em vários países do centro e do oeste da África (Foto: Reuters/DRC Military/Divulgação)
Fonte: G1
Ataque foi feito em parque nacional na República Democrática do Congo. Em 2011, número de apreensões de marfim bateu recorde.
Ataque foi feito em parque nacional na República Democrática do Congo. Em 2011, número de apreensões de marfim bateu recorde.

Tribo brasileira é a ‘mais ameaçada do mundo’, diz entidade


O grupo de defesa dos direitos indígenas Survival International afirma que os índios Awá, do Maranhão, formam a tribo mais ameaçada do mundo. Calcula-se que de 60 a 100 de seus cerca de 450 membros nunca tenham tido contato com o mundo exterior.
A Survival diz que a tribo vem perdendo território de todos os lados. Queimadas feitas por madeireiros acabam com seu habitat e o de seus animais. A entidade espera conseguir pressionar o governo para que este dê mais atenção ao problema dos Awá, classificado pelo juiz José Carlos do Vale Madeira em 2009 como “genocídio”.
O grupo de defesa dos direitos indígenas Survival International afirma que os índios Awá, do Maranhão, formam a tribo mais ameaçada do mundo. Calcula-se que de 60 a 100 de seus cerca de 450 membros nunca tenham tido contato com o mundo exterior.  (Foto: Survival/BBC)
O grupo de defesa dos direitos indígenas Survival International afirma que os índios Awá, do Maranhão, formam a tribo mais ameaçada do mundo. Calcula-se que de 60 a 100 de seus cerca de 450 membros nunca tenham tido contato com o mundo exterior. (Foto: Survival/BBC)
A Survival diz que a tribo vem perdendo território de todos os lados. Queimadas feitas por madeireiros acabam com seu habitat e o de seus animais. O território Awá está limitado pelas linhas brancas, com as atividades de exploradores claramente visíveis.  (Foto: Survival/BBC)
A Survival diz que a tribo vem perdendo território de todos os lados. Queimadas feitas por madeireiros acabam com seu habitat e o de seus animais. O território Awá está limitado pelas linhas brancas, com as atividades de exploradores claramente visíveis. (Foto: Survival/BBC)
Os Awá são caçadores/coletores e viajam em grupos grandes de cerca de 30 pessoas. Caçadas podem durar semanas. Mas os grupos são vulneráveis a ataques de pistoleiros contratados por cortadores de madeira e criadores de gado.  (Foto: Survival/BBC)
Os Awá são caçadores/coletores e viajam em grupos grandes de cerca de 30 pessoas. Caçadas podem durar semanas. Mas os grupos são vulneráveis a ataques de pistoleiros contratados por cortadores de madeira e criadores de gado. (Foto: Survival/BBC)
Takwarentxia, sua mulher e filho foram contactados em 1992 quando fugiam de pistoleiros contratados por rancheiros que mataram a maioria de seu grupo. (Foto: Survival/BBC)
Takwarentxia, sua mulher e filho foram contactados em 1992 quando fugiam de pistoleiros contratados por rancheiros que mataram a maioria de seu grupo. (Foto: Survival/BBC)
Acredita-se que Amerintxia é a mais velha dos Awá, mas ela ainda coleta sua própria comida e vive sozinha em um abrigo feito de folhas. (Foto: Survival/BBC)
Acredita-se que Amerintxia é a mais velha dos Awá, mas ela ainda coleta sua própria comida e vive sozinha em um abrigo feito de folhas. (Foto: Survival/BBC)
Amerintxia com seu macaco de estimação. A tribo mantém uma ligação próxima com a fauna, adotando macacos órfãos, que são incorporados às famílias. Mulheres Awá chagam a os amamentar.  (Foto: Survival/BBC)
Amerintxia com seu macaco de estimação. A tribo mantém uma ligação próxima com a fauna, adotando macacos órfãos, que são incorporados às famílias. Mulheres Awá chagam a os amamentar. (Foto: Survival/BBC)
Mulheres Awá decoram os homens para um ritual chamado karawara, no qual eles entram em um estado de transe para tentar se comunicar com espíritos ancestrais (Foto: Survival/BBC)
Mulheres Awá decoram os homens para um ritual chamado karawara, no qual eles entram em um estado de transe para tentar se comunicar com espíritos ancestrais (Foto: Survival/BBC)
Mas durante o dia, o desmatamento prossegue. Calcula-se que quase um terço das terras Awá foi tomado em operações ilegais.  (Foto: Survival/BBC)
Mas durante o dia, o desmatamento prossegue. Calcula-se que quase um terço das terras Awá foi tomado em operações ilegais. (Foto: Survival/BBC)
Da BBC – Fonte: G1
Slings para bebês eram feitos de fibras de palmeiras, porém mais e mais itens do mundo moderno são usados pela tribo. Um dos maiores riscos do contato é a exposição a doenças as quais eles não têm defesas. (Foto: Survival/BBC)
Slings para bebês eram feitos de fibras de palmeiras, porém mais e mais itens do mundo moderno são usados pela tribo. Um dos maiores riscos do contato é a exposição a doenças as quais eles não têm defesas. (Foto: Survival/BBC)

No Dia da Terra, 17 cientistas célebres disseram como fazer um mundo melhor


Dezessete grandes cientistas e quatro organizações conservacionistas aclamadas pediram por uma ação radical para criar um mundo melhor para essa e as futuras gerações. Compilado por 21 ganhadores do prestigioso Prêmio Planeta Azul, um novo artigo recomenda soluções para alguns dos problemas mais prementes do mundo, incluindo as mudanças climáticas, a pobreza e a extinção em massa.
O documento, intitulado Environment and Development Challenges: The Imperative to Act, foi apresentada recentemente no encontro do conselho do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em Nairóbi, Quênia.
O Prêmio Planeta Azul é dado para “realizações notáveis em pesquisa científica e suas aplicações que ajudaram a oferecer soluções para problemas ambientais globais”. Apelidado por alguns de Prêmio Nobel para o meio ambiente, o prêmio inclui ganhadores como o ambientalista James Lovelock, o biólogo Paul Ehrlich, o físico Amory Lovins, o economista Nicholas Stern e o climatologista James Hansen, os quais contribuíram para o relatório.
 “O sistema atual está falido”, disse o climatologista Bob Watson, ganhador do Planeta Azul em 2010 e instigador do relatório. “Está levando a humanidade a um futuro que será 3-5 graus Celsius mais quente do que o que nossa espécie já conheceu, e está eliminando a ecologia da qual dependemos para nossa saúde, riqueza e autoconhecimento. Não podemos assumir que soluções tecnológicas chegarão suficientemente rápido. Em vez disso, precisamos de soluções humanas. A boa notícia é que elas existem, mas os tomadores de decisão precisam pensar no futuro para aproveitá-las.”
O ambicioso estudo surge apenas alguns meses antes da Conferência Rio+20: O Futuro que Queremos, uma reunião ambiental global que acontece 20 anos depois da Cúpula do Rio. No entanto, expectativas para uma ação real na cúpula Rio+20 foram atenuadas pelo lançamento de um rascunho de acordo fraco e, de acordo com críticos, que permite que as nações mais uma vez façam promessas vagas.
Por sua vez, os premiados pelo Planeta Azul pedem que o mundo reduza rapidamente suas emissões de gases do efeito estufa, troquem o PIB (produto interno bruto) por uma medida mais holística de bem-estar nacional, desassociem a destruição ambiental do consumo, reduzam os subsídios para combustíveis fósseis e práticas agrícolas ambientalmente destrutivas, coloquem um valor de mercado em serviços de biodiversidade e ecossistema, trabalhem com movimentos de base para criar uma ação de baixo para cima, e finalmente, combatam a superpopulação.
“Se queremos atingir nosso sonho, o momento para agir é agora, dada a inércia no sistema socioeconômico e o fato de que os efeitos adversos das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade não poderão ser revertidos por séculos ou serão irreversíveis”, escreveram os autores.
Declarando que “o sistema está falido e nosso caminho atual não realizará [o sonho de um mundo melhor]”, os autores apontam que “a civilização se depara com uma perfeita tempestade de problemas direcionados pela superpopulação, consumo excessivo pelos ricos, uso de tecnologias ruins para o ambiente e grandes desigualdades”. O que piora a situação, segundo os cientistas e ambientalistas, é o “mito” perigoso de que “economias podem crescer para sempre”.
Uma nova economia para um novo milênio
A atual economia global deve ser transformada de um modelo de crescimento para um modelo de sustentabilidade que leve a natureza em conta, argumentam os cientistas.
“Já que a maioria dos bens e serviços vendidos hoje não consegue suportar os custos ambientais e sociais de produção e consumo, precisamos atingir um consenso sobre metodologias para precificá-los apropriadamente”, escreveram os cientistas.
Muitos dos recursos naturais do mundo são finitos (minerais, combustíveis fósseis, água) e os que são renováveis (florestas, pesca, alimentos) são facilmente exauríveis quando mal administrados e podem mesmo ser destruídos inteiramente. Por isso, de acordo com o relatório, os economistas precisam redefinir os capitais em questão para refletir quais estão baseados na natureza e quais estão baseados nos humanos.
“Os governos deveriam reconhecer as sérias limitações do PIB como medida de atividade econômica e complementá-lo com medidas das cinco formas de capital, físico, financeiro, natural, humano e capital social, ou seja, uma medida de riqueza que integre dimensões econômicas, ambientais e sociais”, argumenta o documento. Os cientistas admitem que a transição será difícil, mas é necessária.
“Há uma necessidade urgente de quebrar a ligação entre a produção e o consumo e a destruição ambiental. Isso pode arriscar os padrões materiais de vida por um período que nos permitiria superar a pobreza mundial. Um crescimento material indefinido em um planeta com recursos naturais finitos e frequentemente frágeis seria, no entanto, eventualmente insustentável”, escreveram eles.
Ainda assim, embora tal ação possa exigir a eliminação gradual de algumas práticas industriais e econômicas, outras indústrias verdes poderiam preencher as lacunas, fornecendo empregos e estabilidade.
“O custeio de externalidades ambientais poderia abrir novas oportunidades para um crescimento verde e empregos verdes”, escreveram os autores, acrescentando que “o uso eficiente de recursos (por exemplo, de energia e água) economiza dinheiro para empresas e famílias. Valorizar e criar mercados para serviços ecossistêmicos pode oferecer novas oportunidades econômicas. Uma economia verde será a fonte de futuros empregos e inovações”.
O que está ficando no caminho de tal transição? O relatório alerta que as atuais alianças entre governos e grandes corporações está minando a habilidade da sociedade de mudar práticas costumeiras.
“A natureza internacional da maioria do setor corporativo envolvido no uso de recursos naturais significa que mesmo os governos dos países nos quais elas estão sediadas têm uma habilidade limitada para influenciar suas ações e decisões”, escreveram eles, adicionando que a dependência atual nos combustíveis fósseis “constitui muitos dos problemas que enfrentamos hoje”.
Para ter sucesso, os governos devem ser transformados em todos os níveis, os pesquisadores afirmam.
“Em nível local audiências públicas e auditorias sociais podem trazer as vozes de grupos marginalizados para a linha de frente. Em nível nacional, a fiscalização parlamentar e midiática é chave. Globalmente, devemos achar meios melhores para aprovar e implantar medidas para atingir metas coletivas.”
Mas embora todos os interessados devam estar envolvidos, os cientistas argumentam que movimentos de base, o ativismo de baixo para cima e programas locais devem receber mais poder.
“Há uma necessidade de expandir as ações de base, unindo abordagens complementares de cima para baixo e de baixo para cima para resolver esses problemas.”
A crise climática
A fim de combater as mudanças climáticas globais, o estudo recomenda uma estratégia dual de aumentar drasticamente a eficiência energética e desenvolver as energias renováveis e a captura de carbono em larga escala.
“Geralmente, os países em desenvolvimento localizados nas áreas tropicais do mundo podem se beneficiar mais das tecnologias de energia solar [...] Nos países industrializados com um consumo muito alto de energia per capita, medidas de eficiência energética podem ser muito eficazes”, escreveram os autores, acrescentando que em países em desenvolvimento “o progresso econômico pode ser atingido através da adoção antecipada de tecnologias de eficiência energética em vez de adotar tecnologias obsoletas que gerarão problemas que terão que ser resolvidos mais tarde.”
Eles observaram que as fontes limpas poderiam fornecer 75% da energia em muitas partes do mundo, e 90% nos trópicos, até 2050.
“A principal tarefa é expandir, reduzir custos e integrar as renováveis nos sistemas energéticos futuros. Cuidadosamente desenvolvidas, as energias renováveis podem oferecer benefícios múltiplos, incluindo empregos, segurança energética, saúde humana, meio ambiente e mitigação das mudanças climáticas”, registra o estudo.
Quanto à captura e armazenamento de carbono, os autores ainda têm mantêm a esperança apesar de uma série de dificuldades: “a principal tarefa é reduzir custos e atingir um aperfeiçoamento tecnológico rápido”, adicionando que esperam “que uma série de projetos piloto pelo mundo demonstrem sua viabilidade”.
Embora os cientistas reconheçam que a adaptação aos impactos das mudanças climáticas é uma necessidade, eles escrevem que “a estratégia de adaptação mais eficaz é a mitigação a fim de limitar a magnitude das mudanças climáticas”.
Curiosamente, os pesquisadores observam que uma pessoa pode um cético das mudanças climáticas e ainda ver os grandes benefícios da energia limpa.
“Uma transição para uma economia de baixo carbono faz sentido e faz dinheiro por muitas outras razões convincentes [para além de mitigar as mudanças climáticas]. A China, por exemplo, está liderando a eficiência global e as revoluções em energia limpa não por causa dos tratados internacionais e convenções, mas para acelerar seu próprio desenvolvimento e para melhorar a saúde pública e a segurança nacional”, escreveram os autores.
Vida na Terra
Cortar as emissões de gases do efeito estufa rapidamente é a solução geral para as mudanças climáticas, mas salvar a vida na Terra da extinção é menos simples.
“A biodiversidade – a variedade de genes, populações, espécies, comunidades, ecossistemas e processos ecológicos que compõem a vida na Terra – sustenta os serviços ecossistêmicos, sustenta a humanidade, é fundamental para a resistência da vida na Terra e é parte integrante do tecido de todas as culturas do mundo”, escreveram os autores do documento.
A biodiversidade e os serviços ecossistêmicos também sustentam a economia global, observam eles, embora isso tenha sido quase que inteiramente negligenciado por nosso atual modelo econômico.
“Os benefícios que os ecossistemas oferecem ao bem-estar humano são historicamente fornecidos sem custo, e a demanda por eles está aumentando. Embora o valor econômico global dos serviços ecossistêmicos possa ser difícil de medir, ele quase certamente rivaliza ou excede o produto interno bruto global agregado, e os benefícios ecossistêmicos frequentemente superam os custos de sua conservação”, escreveram os cientistas.
Eles sugerem uma mudança rápida do “método de exploração de recursos do desenvolvimento convencional para o método de enriquecimento de recursos do desenvolvimento sustentável” no mundo em desenvolvimento.
Atualmente, o desenvolvimento em países mais pobres geralmente implica em projetos industriais de larga escala com grandes pegadas ambientais: mineração, corte de madeira, barragens, exploração de combustíveis fósseis, construção de auto-estradas etc.
”O valor dos serviços ecossistêmicos e do capital natural deve ser incorporado na contabilidade nacional e em processos de tomada de decisão em todos os setores da sociedade, o acesso a benefícios ecossistêmicos e custos de conservação de ecossistemas devem ser compartilhados igualmente, e serviços de biodiversidade e ecossistemas devem ser vistos como o componente mais fundamental do desenvolvimento econômico verde”, escreveram os cientistas.
De acordo com o documento, a perda de serviços ecossistêmicos logo atingirá a economia global na ordem de US$ 500 bilhões por ano. Por isso, os cientistas pedem que todos os países adotem “um sistema nacional de contabilidade de riqueza inclusivo, que abarque a contabilidade de serviços ecossistêmicos importados e exportados, o que poderia estimular mais abordagens para o desenvolvimento de um mercado de serviços ecossistêmicos”.
Os autores também observaram que ganhar a batalha das mudanças climáticas e a extinção em massa não é mutuamente exclusivo, porque o que ajuda a biodiversidade frequentemente mitigará o aquecimento global, e vice-versa. Por exemplo, os cientistas lançam seu apoio ao programa de REDD+ (redução das emissões por desmatamento e degradação florestal), que propõe pagar às nações tropicais para manterem suas florestas em pé.
Outro problema que está por trás do resto é a superpopulação. A dramática explosão da população no último século colocou uma crescente pressão sobre a biodiversidade, os recursos naturais, a produção de alimento e o clima. Resolver a superpopulação por meios não severos ou compulsórios poderia oferecer uma infinidade de benefícios sociais, além de diminuir nosso pedágio ambiental.
“O problema da população deveria ser resolvido urgentemente pela educação e o fortalecimento das mulheres, inclusive na força de trabalho e nos direitos, propriedade e herança; pelos cuidados com a saúde de crianças e idosos; e tornando a contracepção acessível a todos”, escreveram os cientistas.
Os premiados do Planeta Azul argumentam que as nações devem parar de ver as questões ambientais como desconectadas, como problemas isolados, já que, por exemplo, proteger os ecossistemas como florestas mitigará as mudanças climáticas, diminuirá a dificuldade da adaptação climática e preservará a biodiversidade, entre uma série de outros benefícios.
“Uma abordagem ecossistêmica compreensiva e integrada é uma ‘ferramenta’ poderosa para identificar, analisar e resolver problemas ambientais complicados, em vez de dividir as abordagens em problemas ambientais multifacetados que não funcionam”, concluíram os pesquisadores.
Um mundo melhor
O relatório não subestima a escala dos problemas enfrentados pelas sociedades hoje, nem o pesado fardo que será transformar a economia global, mas declara que o futuro será muito pior se uma ação não for tomada rápida e decisivamente.
“Diante de uma emergência absolutamente sem precedentes, a sociedade não tem escolha a não ser tomar uma atitude dramática para evitar um colapso da civilização”, escreveram os cientistas. “Ou mudaremos nosso jeito e construiremos um novo tipo de sociedade global, ou ele será mudado para nós.”
No final do túnel, no entanto, está um mundo melhor.
“Temos um sonho – um mundo sem pobreza – um mundo que é justo – um mundo que respeite os direitos humanos – um mundo com um comportamento ético maior e melhor a respeito da pobreza e dos recursos naturais – um mundo que seja sustentável ambiental, social e economicamente, onde desafios como as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a desigualdade social tenham sido resolvidos exitosamente.”
Créditos de Imagem:Rhett A. Butler/Mongabay
Traduzido por Jéssica Lipinski
Leia o original no Mongabay (inglês)
Fonte: Instituto Carbono Brasil
No Dia da Terra, 17 cientistas célebres dizem como fazer um mundo melhor
No Dia da Terra, 17 cientistas célebres disseram como fazer um mundo melhor

25/04/2012

O 7º continente… de plástico


Ainda há quem não acredite, mas existe. Já não chamam mais de ilha de lixo. Adquiriu dimensão continental: pelos cálculos do Centro Nacional de Estudos Espaciais francês, tem agora 22 mil quilômetros de circunferência e quase 3,5 milhões de quilômetros quadrados. É seis vezes maior que a própria França e está localizado no nordeste do oceano Pacífico, próximo do Havaí.
Em 2 de maio, a expedição francesa 7º Continente sairá de San Diego, na Califórnia, com um grupo de pesquisadores a bordo da escuna L’Elan, em direção a esse novo “território” do planeta. Chefiada pelo explorador Patrick Deixonne, a missão vai percorrer mais de 4.500 quilômetros até alcançar o continente de plástico. “A placa de lixo está em águas pouco usadas pela marinha e o turismo, e a comunidade internacional não se preocupa com ela, por enquanto”, disse ele à agência de notícias AFP.
Em 2009 Patrick Deixonne participava de uma competição de remo na região se disse “chocado” com o lixão flutuante. Decidiu, então, organizar a expedição para alertar o mundo.
Pelo andar da carruagem, o continente de plástico tem tudo para crescer ainda mais. Quando foi descoberto ao acaso, em 1997, pelo explorador Charles Moore, não passava de uma ilha. Mas por anos tem sido alimentada diariamente por mais lixo jogado nos mares, carregado pelas fortes correntes marinhas. A força centrípeta do continente de plástico suga os detritos, que vão se acumulando assustadoramente naquela região. Os habitantes desse estranho continente bem poderiam ser tartarugas, golfinhos e aves marinhas que comem sacos plásticos, além de focas “ornamentadas” com cordas de nylon enroladas no pescoço, como a da foto que ilustra este post.
Estudiosos do instituto francês Ocean Scientific Logistic (OSL) acreditam que os oceanos da Terra já estejam entupidos com algumas dezenas de milhões de toneladas de entulho boiando. O Atlântico Sul – que banha o litoral do Brasil – é um deles. Há exatamente um ano, jornalistas e pesquisadores brasileiros já haviam detectado grandes manchas de lixo próximo da ilha Ascensão, localizada no meio do Atlântico, entre a costa do nordeste brasileiro e o norte da África.
A continuar como estamos, quem sabe teremos uma grande ilha de plástico em nosso litoral no próximo verão. Se não a quisermos por perto será preciso colocar em prática urgentemente a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), acabar com os lixões, incrementar a reciclagem, nos tornar consumidores conscientes.
Fonte: Planeta Sustentável
O 7º continente… de plástico
O 7º continente… de plástico

A sustentabilidade que eu quero


Em 2012, a Conferência Rio+20 promete trazer ao debate sobre desenvolvimento sustentável ativistas, militantes, líderes políticos e governos. Juntos, tentarão dar conta do complexo e difícil quebra-cabeça contemporâneo: preservar o meio ambiente. Há quem diga que só a extinção do capitalismo poderia salvar a humanidade de uma hecatombe impulsada pelo uso predatório de recursos naturais. Há quem defenda que, mesmo dentro deste sistema produtivo, é possível criar desenvolvimento sustentável e manter – ou melhorar – nosso padrão de vida e conforto.
Eu penso que, com ou sem capitalismo, as estruturas sociais é que farão a diferença na vida das pessoas. Começo por um caso simples: numa cidade, o espaço não é homogeneamente distribuído entre os habitantes. Os pedaços de terra, casas, apartamentos são muito diferentes entre si e acarretam diferentes consequências na vida de seus moradores. Em São Paulo, quem mora no Jardim Pantanal não poderia, por livre e espontânea vontade, mudar-se para um apartamento na Vila Madalena. O Jardim Pantanal fica boa parte da época de chuvas alagado (ironia?) e a Vila Madalena não. As mudanças climáticas influenciam na quantidade de precipitação, no regime de rios e lagos. Seus efeitos não são os mesmos num bairro e no outro.
Para ficar em outro exemplo óbvio, o aumento da amplitude térmica sempre será mais tranquilo para quem pode comprar casacos quentinhos, tem onde morar, está bem alimentado e pode ligar o ar-condicionado.
O fato é que os próprios mecanismos para driblar os efeitos das mudanças climáticas correm o sério risco de converter-se em mercadorias. Nisso, estou com os que atacam esta questão pela raiz: numa estrutura capitalista de classes, onde recursos e grana não são distribuídos igualmente, será sempre impossível implementar soluções ambientais totalmente democráticas.
Contudo, há ainda outros tipos de desigualdade social que parecem interferir diretamente na distribuição desigual de impactos das mudanças climáticas. Com o racismo estrutural no Brasil, por exemplo, é fácil prever que brancos e negros sofram de forma distinta este processo. Mesmo que haja políticas públicas sólidas de amparo a grupos sociais desprivilegiados, o tratamento dado pelo Estado e seus agentes (sejam eles policiais, funcionários públicos, políticos, etc.) não será muito igualitário. O racismo estrutural é anterior, está na forma com que moldamos nossas visões de mundo. Numa situação limite, em quem confiar? De quem desconfiar?
A desigualdade de gênero, me parece, também é brutal. Quando há uma enchente, quem é que limpa a casa depois? Quem é que precisa se deslocar e abandonar a família para obter trabalho semiescravo nas grandes cidades? Quando esses maridos se vão, quem é que fica com os filhos e cuida da propriedade, da colheita, da água? O impacto das mudanças climáticas varia, ainda, entre homens e mulheres (embora “gênero” não diga respeito apenas a estas duas formas de classificar pessoas). Buscar trabalho, prover comida e conforto, trabalhar na lavoura, fazer jornadas triplas, quádruplas. Cuidar dos recursos e da saúde das crianças. Tudo isso se transforma substancialmente num contexto de mudanças climáticas.
Frequentemente esquecemo-nos, ao elaborarmos políticas públicas, que não somos uma sociedade igualitária. Estas políticas costumam ser elaboradas tendo em mente o “ser humano universal”. O problema é que de universal esse ser humano não tem nada: é homem, branco, urbano e rico. Sem entendermos as especificidades cotidianas impostas pela estrutura social a diferentes grupos, as políticas ambientais só poderão salvar aqueles mesmos que as elaboram.
* Publicado originalmente no site Outras Palavras.
(Outras Palavras)
Fonte: Envolverde
Às vésperas da Rio+20, lembremos que jamais existirão soluções universais para combater a mudança climática – nosso mundo é pleno de diferenças.
Às vésperas da Rio+20, lembremos que jamais existirão soluções universais para combater a mudança climática – nosso mundo é pleno de diferenças.

O clima está preso por um fio: a longa e calorosa luta para combater a mudança climática


Em março se registrou o primeiro desastre climático do ano nos Estados Unidos, que provocou mais de US$ 1 bilhão em danos. Os tornados que castigaram quatro dos Estados centrais do país deixaram um saldo de 41 mortos. Mitt Romney está por converter-se no candidato republicano à Presidência e já começa a atacar o presidente Obama com respeito às políticas sobre mudança climática.
O Pentágono a conhece. As principais empresas de seguros do mundo a conhecem. Os governos podem ser derrubados por causa dela. É a mudança climática, e é real. Segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, em março se registraram temperaturas recordes no país, o que o converte no março mais quente desde que começou a ser feito o registro, em 1895. As temperaturas médias estiveram 4,8 graus Celsius acima da média e foram batidos mais de 15 mil recordes de temperaturas máximas em nível nacional. A seca, os incêndios florestais, os tornados e outros eventos climáticos extremos já estão afetando o país.
No outro lado do mundo, nas Ilhas Maldivas, o aumento do nível do mar continua ameaçando esse arquipélago do Oceano Índico. Trata-se da nação mais baixa do mundo, com uma média de apenas 1,3 metros sobre o nível do mar. A grave situação das Maldivas foi notícia em nível mundial quando seu jovem presidente, o primeiro presidente eleito democraticamente no país, Mohamed Nasheed, se converteu em uma das principais vozes do mundo que se levantou contra as mudanças climáticas, em particular na etapa prévia à conferência sobre mudança climática da ONU realizada em Copenhague em 2009. Nasheed realizou uma reunião ministerial embaixo da água, na qual seu gabinete vestia equipamentos de mergulho, para ilustrar o potencial desastre.
Nasheed declarou: “A mudança climática é um problema real e está acontecendo agora. Não é um problema do futuro. Qualquer desequilíbrio na natureza terá impactos enormes nas Ilhas Maldivas e não só nestas ilhas, em outras regiões costeiras do mundo também. Acho que cerca de um terço da população mundial vive em zonas costeiras e se verá gravemente afetada se não fizermos algo para combater a mudança climática nos próximos anos. Deve-se alcançar um acordo internacional para reduzir as emissões de carbono”.
Em fevereiro deste ano, Mohamed Nasheed foi derrubado da presidência à ponta de pistola. O governo de Obama, por meio da porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, disse sobre o golpe de Estado: “atuaram dentro do marco constitucional”. Quando falei com o presidente Nasheed no mês passado, me disse: “Foi muito surpreendente e muito preocupante que o governo dos Estados Unidos reconhecesse de imediato o reestabelecimento da antiga ditadura. Temos que reinstaurar a democracia no nosso país. É uma democracia muito jovem. Conseguimos ter eleições multipartidárias recém em 2008, e só durou três anos. Em seguida houve um golpe de Estado muito bem planejado. Nos surpreendeu que os Estados Unidos reconhecessem tão rápido o novo regime”. Há um paralelismo entre as posições nacionais sobre mudança climática e o apoio ou a oposição ao golpe nas Maldivas.
Nasheed é o personagem principal de um novo documentário denominado The Island President (O presidente da ilha), que mostra sua notável trajetória. Durante a ditadura de Maumoon Abdul Gayoom, foi um destacado militante estudantil que foi preso e torturado, como muitos outros. Em 2008, quando finalmente se celebraram eleições no país, Nassheed derrotou Gayoom e acabou eleito presidente. Entretanto, me disse: “É fácil derrotar um ditador, mas não é tão fácil livrar-se de uma ditadura. As redes, as dificuldades, as instituições e tudo o que foi estabelecido pela ditadura continuam em pé, inclusive depois das eleições”. No dia 7 de fevereiro de 2012 pela manhã, Nasheed renunciou, após generais rebeldes do Exército ameaçarem de morte, ele e seus seguidores.
Embora ainda não se tenha achado nenhum vínculo direto entre o ativismo contra a mudança climática de Nasheed e o golpe, ficou claro que, durante a cúpula de Copenhague em 2009, foi uma pedra no sapato para o governo de Obama. Nasheed e outros representantes da Apei, a Aliança de Pequenos Estados Insulares, assumiram a postura de defender a futura existência de seus países e de construir alianças com grupos de base como o 350.org, que se opõe às políticas sobre o clima dominadas pelas empresas.
Enquanto isso, em março se registrou o primeiro desastre climático do ano nos Estados Unidos, que provocou mais de US$ 1 bilhão em danos. Os tornados que castigaram quatro dos Estados centrais do país deixaram um saldo de 41 mortos. O doutor Jeff Masters, da página web de informação meteorológica Weather Underground, escreveu em seu blog que as temperaturas recordes registradas em março “não só foram minimizadas, mas foram modificadas”. No dia 23 de março, o governador conservador do Texas, Rick Perry, renovou o estado de emergência declarado no ano passado como consequência das fortes secas.
Mil dos 4.710 sistemas de gestão comunitária da água do Texas estão sofrendo restrições. A localidade texana de Spicewood, com uma população de 1.100 habitantes, ficou sem água e agora depende da distribuição de água em caminhões cisterna. Enquanto os habitantes enfrentam fortes restrições no uso da água, para o governador Perry restringir o uso da água às empresas que emitem os gases de efeito estufa, que provocam a mudança climática, seria impensável.
Mitt Romney está por converter-se no candidato republicano à Presidência e conta com o apoio de ex-rivais como Perry. Os republicanos já começaram a atacar o presidente Obama com respeito às políticas sobre mudança climática. O Conselho Norte-Americano de Intercâmbio Legislativo (Alec, na sigla em inglês), promoveu leis nas câmaras de deputados estaduais que se opõem a qualquer legislação sobre clima e incitou os membros do Congresso a que bloqueiem todo tipo de ação federal, em particular, que obstaculizem o trabalho da Agência de Proteção Ambiental.
Como detalhou o Center for Media and Democracy (Centro de Estudos sobre Mídias e Democracia) em seu informe denominado Alec Exposed, a Alec conta com o financiamento das principais empresas contaminadoras do país, como ExxonMobil, BP America, Chevron, Peabody Energy e Koch Industries. Os irmãos Koch também financiaram grupos do Tea Party, como o grupo Freedom Works, para dar a impressão de que fazem ativismo social.
Este período eleitoral provavelmente será marcado por mais eventos climáticos extremos, com a consequente perda de mais vidas e bilhões de dólares em danos.
Enquanto o presidente Nasheed se esforça para voltar a apresentar-se como candidato à Presidência que lhe foi arrebatada, o presidente Obama tenta aferrar-se à sua. Entretanto, o clima está preso por um fio.
* Amy Goodman é a apresentadora do Democracy Now!, noticiário internacional emitido diariamente em mais de 550 emissoras de rádio e televisão em inglês e em mais de 350 em espanhol. É coautora do livro Os que lutam contra o sistema: Heróis ordinários em tempos extraordinários nos Estados Unidos, editado por Le Monde Diplomatique Cono Sur.
** Tradução: Libório Junior.
*** Publicado originalmente no site Democracy Now e retirado da Carta Maior.
(Carta Maior)
Fonte: Envolverde
O clima está preso por um fio: a longa e calorosa luta para combater a mudança climática
O clima está preso por um fio: a longa e calorosa luta para combater a mudança climática